Eu tenho um sonho

Damiana Fernandes
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5/8/24

Eu tenho um sonho. E poderá ser o seu sonho também. Sonho com uma Medicina Dentária praticada de forma consciente, sustentável, em que as clínicas são locais de trabalho seguros, de crescimento profissional e pessoal, com uma cultura organizacional saudável. Sonho com uma Medicina Dentária cujos líderes apoiam e potenciam os seus colaboradores a trabalhar em alto desempenho e os guiam rumo aos objetivos coletivos, respeitando as suas caraterísticas individuais e os seus valores e promovendo, em simultâneo a sua qualidade de vida física, pessoal e social. Sonho com uma Medicina Dentária orientada para o paciente, baseada na evidência e que busca a evolução e a excelência. 

Reconheço que a realidade da Medicina Dentária portuguesa tem um caminho ainda a percorrer até que este sonho seja atingido. Não pelos aspetos técnicos ou tecnológicos pois a Medicina Dentária praticada no nosso país está na vanguarda no que toca a estes aspetos. Refiro-me à forma como são formulados os modelos de gestão, à gestão dos recursos humanos e à sua cultura organizacional. Reconheço também que o caminho existe e passa pela implementação de estratégias de desenvolvimento de competências humanas e socias de inteligência emocional e de estratégias que fomentem a felicidade organizacional. A felicidade organizacional é um conceito crescente na gestão de empresas, incluindo na área da medicina dentária. A ideia é que colaboradores felizes são mais produtivos, leais e têm menor taxa de absenteísmo e rotatividade, o que permite a retenção de talentos. Por outro lado, a inteligência emocional é fundamental para os profissionais de saúde oral lidarem com os desafios diários da sua profissão, ajuda a melhorar a comunicação com os pacientes e colegas, reduz o stress e aumenta o nível de realização pessoal e profissional.

No entanto, a implementação de estratégias de desenvolvimento de competências de inteligência emocional e felicidade organizacional pode enfrentar alguns obstáculos em Medicina Dentária e não ser o passo mais indicado em todos os contextos. Isto prende-se com a existência de problemas de base que devem ser diagnosticados e corrigidos previamente e com a natureza desta área profissional. Por exemplo, a prática de permitir aos funcionários trabalhar em horários flexíveis pode não ser uma opção viável em muitas clínicas dentárias, onde é necessário manter uma agenda rigorosa para atender os pacientes. Outro exemplo é a realização de atividades de team building, atribuindo-lhe carácter obrigatório, fora do horário de trabalho, o que tira tempo à vida pessoal e familiar, influencia o estado emocional com que os colaboradores participam nessas atividades e aumenta a sua resistência à aprendizagem ou mudança. Há problemas de base que devem ser rigorosamente trabalhados numa fase inicial: agendas sobrelotadas, falta de competências de liderança, falta de definição clara de funções e responsabilidades, ausência de sistemas e protocolos, ambientes tóxicos e com pouca segurança do ponto de vista emocional, baixa promoção da saúde física e mental dos colaboradores. De pouco serve, numa perspetiva macro, realizar formações ou workshops com estas temáticas se não houver um compromisso real e consistente da liderança e da gestão para alcançar resultados efetivos. Este compromisso deve passar também pelo empenho em corrigir os problemas de base no modelo de gestão e identificar as reais necessidades de cada clínica e de cada colaborador.

Apesar destes obstáculos, a felicidade organizacional e o desenvolvimento de competências sociais e humanas trazem benefícios significativos para as clínicas dentárias e para os seus colaboradores. Mas é importante abordar e corrigir os problemas de base antes de implementar estratégias positivas. Só assim se abre o caminho para a Medicina Dentária com que todos sonhamos.

Damiana Fernandes
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5.8.24
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