Ambiente de Trabalho Tóxico: Ficar ou Sair?

Damiana Fernandes
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3/10/24

No dia-a-dia dos profissionais de saúde oral, seja ao nível clínico ou em laboratório de prótese dentária, há uma preocupação crescente com os efeitos dos ambientes tóxicos. Como decidir se devemos permanecer nesses ambientes ou se devemos considerar uma possível saída? Esta é uma questão  que me é colocada frequentemente por dentistas, higienistas orais e técnicos de prótese dentária, especialmente quando os efeitos dos ambientes profissionais os fazem sentir emocional e fisicamente exaustos e desanimados.

Antes de qualquer tomada de decisão, proponho sempre uma análise racional e provida de algum distanciamento emocional. Em primeiro lugar, para esclarecer o que é um ambiente tóxico e, em segundo lugar, para entender quais as características do ambiente do profissional que o levam a considerá-lo tóxico. Esta reflexão permite orientar o foco para aquilo que o profissional de saúde oral pode, ou não, controlar e trabalhar para melhorar.

Um ambiente de trabalho tóxico é aquele onde se verificam condições e dinâmicas que prejudicam o bem-estar, o desempenho e a saúde dos colaboradores. Podem verificar-se problemas ao nível da comunicação, dos relacionamentos, da liderança e até bullying e assédio moral. Como resultado, os profissionais de saúde oral tendem a sentir-se desvalorizados, sobrecarregados e constantemente sob pressão, o que conduz a um maior registo de sintomas de esgotamento, depressão e ansiedade, diminuição da produtividade e elevada taxa de rotatividade. 

Por vezes, acontece culparmos o ambiente externo por todas as nossas dificuldades e problemas sem nunca nos colocarmos em causa. “E se os desafios se prenderem com habilidades que ainda não tenho desenvolvidas?” Este pode ser um exercício desconfortável, mas fundamental para a identificação de competências que possamos desenvolver para melhor nos adaptarmos e enfrentarmos adversidades. Na verdade, há competências sociais e humanas que, quando desenvolvidas, dotam os profissionais de ferramentas úteis e adaptativas para quando confrontados com situações desafiantes ou tóxicas. Refiro-me a competências como saber estabelecer limites saudáveis, comunicar de forma assertiva, ter consciência dos seus valores profissionais, saber gerir conflitos, regulação emocional, entre outras. Investir em si mesmo, ao nível da formação em soft skills, é o caminho inicial para enfrentar um ambiente tóxico e contribuir para a construção de culturas mais saudáveis em Medicina Dentária. No entanto, é importante reconhecer que nem sempre isso é suficiente.

Se, mesmo após dedicarmos tempo e energia para nos adaptarmos ao ambiente, as coisas não mudarem, pode mesmo ser hora de considerar a possibilidade de sair. Permanecer num ambiente tóxico pode acarretar uma série de consequências com elevado impacto: desde problemas de saúde mental, como ansiedade e burnout, até efeitos negativos na qualidade do atendimento ao paciente e na satisfação profissional. Além disso, permanecer num ambiente tóxico pode minar a autoconfiança e a motivação dos profissionais de saúde oral, prejudicando a sua capacidade de oferecer o melhor cuidado possível aos pacientes. Portanto, é fundamental que, se optarem por sair, o façam de forma estratégica e gradual, garantindo a estabilidade emocional e financeira antes de dar esse passo.

Para os gestores e diretores clínicos, é crucial reconhecer o papel fundamental que desempenham na construção de um ambiente de trabalho seguro e saudável do ponto de vista emocional para os profissionais da Medicina Dentária. Investir em programas de apoio psicológico, promover uma cultura de comunicação aberta e incentivar o desenvolvimento de competências de inteligência emocional são passos essenciais para criar um ambiente onde os membros da equipa se sintam valorizados, respeitados e apoiados.

A decisão de permanecer ou sair de um ambiente tóxico clínico ou laboratorial é complexa e exige uma análise cuidadosa das próprias necessidades e circunstâncias. No entanto, independentemente da escolha que façam, é essencial que os profissionais de saúde oral priorizem seu bem-estar emocional e profissional. Todos nós merecemos trabalhar em ambientes que nos potenciem e nos ajudem a crescer como profissionais!

Damiana Fernandes
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3.10.24
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