Empatia e Compaixão em Medicina Dentária

Manuela Rodrigues
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18/11/24

Imaginem-se com umpaciente que chega à consulta com uma coroa descimentada. O trabalho não évosso, e o paciente quer que voltem a “colar” a coroa. No exame clínicopercebem que a coroa é antiga e está mal-adaptada, a gengiva inflamada, equando perguntam se é a primeira vez que acontece, o paciente responde “estásempre a acontecer”.

Têm uma decisão atomar: podem voltar a cimentar a coroa, com o aviso de que vai acontecernovamente, mas imediatamente aliviar a preocupação do paciente e mandá-loembora com esperança de que ele volte a marcar consulta para refazer o trabalho(até porque ele elogiou a vossa simpatia). Ou podem não cimentar a coroa e teruma conversa difícil, mas importante, sobre o porquê de não o fazerem, o quevai acontecer se o fizerem, qual a melhor solução e custos. O que escolheriamfazer? E qual a opção que exibe empatia?

Eu diria que amelhor opção é a segunda, embora não seja a que demonstra empatia. A opçãoempática é a primeira.

O dilema da empatiareside na própria definição. O dicionário define empatia como “capacidade de seidentificar com outra pessoa e de partilhar os seus sentimentos e motivações”.A compaixão, por outro lado, é “compreender o estado emocional do outro e odesejo de minorar ou aliviar o seu sofrimento”. A empatia permite-nos estar emsintonia com a forma como os outros estão a sentir-se e pode ajudar a melhorarnossas interações sociais em muitos níveis, como comunicação e conexão.Compaixão é empatia em ação. O desejo e a capacidade de ajudar.

Se eu atendo umpaciente com dores e eu assumo a sua dor e angústia, isso é empatia. E se istoacontece, pode mesmo obscurecer a minha capacidade de fornecer o melhortratamento para o paciente. Se, em vez disso, eu ao atender o mesmo paciente,compreender o tipo de dor que ele está a sentir (mesmo que eu nunca tenhasentido a mesma dor) e trabalhar para aliviar a dor da maneira mais apropriadae benéfica a longo prazo, eu mostro compaixão. Por meio da compaixão, vou sercapaz de me distanciar adequadamente da sua dor, pensar racionalmente sobre oque é melhor para o seu caso (já que não estou atolado pela angústia que assumea situação) e agir para ajudar o paciente a tornar-se mais saudável.

À medida que acompaixão e a empatia são confirmadas como respostas aos desafios do trabalhomoderno, as definições das duas começaram a confundir-se. É importante para oMédico Dentista perceber a diferença entre estes conceitos e saber utilizá-loscorretamente. Além disso, estudos descobriram que líderes compassivos sãopercebidos como mais fortes e competentes, e que a compaixão melhora acolaboração e aumenta os níveis de confiança. No caso do paciente da situaçãoinicial, se a opção tomada for a segunda (com base em compaixão), o pacientevai compreender e aceitar o que o profissional lhe disser. E se isto nãoacontecer, o Médico Dentista vai na mesma sentir que tomou a decisão maisacertada para a saúde do seu paciente, e no final do dia não terá o peso de terefetuado um acto clínico que sabe não ser o mais correto.

A empatia constanteleva ao que as pesquisas chamam de "fadiga por empatia", definidocomo "um estado extremo de tensão e preocupação com o sofrimento daquelesque estão a ser ajudados na medida em que é traumatizante para o profissional”.Como é que os Médicos Dentistas podem passar o dia inteiro a absorver ansiedadee dor, e sair ilesos?

O aprender sobreestas duas formas distintas de relação com o paciente e a sua utilizaçãoadequada é o primeiro passo. A próxima etapa envolve tornarmo-nos mais atentosdurante o dia de trabalho. A atenção plena (mindfulness) faz com quereconheçamos facilmente a rota que normalmente seguimos e permitirá queestejamos mais atentos ao escolher a compaixão versus a empatia com ospacientes. Por último, devemos ser assertivos nas nossas decisões com ospacientes e fazer com que percebam o benefício de longo prazo do plano detratamento sugerido.

Acredito que acompaixão fornece uma maneira para que os Médicos Dentistas cuidem dos seuspacientes e façam o que é melhor para eles a longo prazo, sem absorver a suaansiedade, medo, insegurança, angústia, dor e/ou preocupação. Da próxima vezque ouvirem um paciente dar-vos os parabéns pela vossa simpatia, pensem paravocês mesmos: este tipo de empatia é realmente o que meus pacientes precisam?

Manuela Rodrigues
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18.11.24
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